por Eduardo Carli de Moraes, de Amsterdam, para A Casa de Vidro
30 de Janeiro de 2024
Se alguns tímidos raios de esperança puderam brilhar no céu borrascoso de nossa época após o <pronunciamento da International Court of Justice de Haia, em 26 de Janeiro, que acolheu a denúncia apresentada pela equipe jurídica da África do Sul e julgará o estado de Israel por crimes de genocídio>, os dias que se seguiram trataram de enterrar bem fundo as expectativas de que estivéssemos mais perto de um cessar-fogo e do estabelecimento de condições para a urgentemente necessária ajuda humanitária aos mais de 2 milhões de pessoas vitimadas pela agressão bélica genocida dos sionistas.
Ao fim de Janeiro de 2024, a “Guerra Contra O Terror” promovida por Israel e seus cúmplices ocidentais já matou mais de 26.000 pessoas, dentre elas mais de 11.000 crianças e 7.500 mulheres, além de ter ferido e mutilado mais de 66.000 seres humanos e ter devastado toda a infra-estrutura do território incluindo hospitais, escolas e campos de refugiados. Para além da pior hecatombe já ocorrida em Gaza, também na <Cisjordânia (West Bank) o ano de 2023 foi o mais mortífero já registrado – mesmo antes do 7 de Outubro, as forças armadas israelenses e os colonos com trabucos já haviam roubado a vida de mais de 240 pessoas>.
Mesmo o escritor de ficção científica distópica mais pessimista, misantropo e inclinado à descrição de cenários apocalípticos seria incapaz de nos pintar na literatura um cenário tão tétrico quanto este que a realidade de Gaza hoje nos fornece. Pisoteando quaisquer veleidades humanistas, chefes-de-Estado do assim chamado “Ocidente civilizado” e “Primeiro Mundo” vão na contramão da decisão do ICJ e tomam medidas que favorecem o genocídio em curso através do desmantelamento da entidade das Nações Unidas que é a maior responsável pelo alívio humanitário no território invadido, ocupado e catastroficamente bombardeado.
É chocante o colapso súbito do financiamento para a <UNRWA> em meio à pior catástrofe humanitária já vivida pelos mais de 2 milhões de habitantes de Gaza – trata-se de mais uma ação dos cúmplices ocidentais do sionismo que caracteriza <punição coletiva> e que exacerba a tendência denunciada pela Oxfam e pela Human Rights Watch do <uso da fome como arma de guerra>. Vale destacar que a entidade UNRWA tem aproximadamente 13.000 funcionários trabalhando em Gaza e serve como uma espécie de poder público nos territórios palestinos, operando escolas e hospitais, coordenando a distribuição de alimentos e água potável, além de ser a principal operadora da logística de disseminação de uma ajuda humanitária que atualmente é mínima, vastamente insuficiente para as necessidades de uma população sob apocalíptico bombardeio há quase 4 meses.
<Ao fim de 2023, já se contabilizavam 142 pessoas que trabalhavam na UNRWA que haviam sido assassinadas pelas ações das tropas sionistas em Gaza>, um número absolutamente sem precedentes na história de qualquer entidade das Nações Unidas desde sua fundação. Nos dias após a Corte Suprema da ONU ter aceito a delação da África do Sul contra Israel por violação contumaz e sistemática da Convenção do Genocídio de 1948, Israel continuou o bombardeio indiscriminado de Gaza, matando aproximadamente 200 pessoas a cada 24 horas, enquanto pressiona um fluxo migratório de quase 2 milhões de palestinos na direção de Rafa, fronteira com o Egito, onde também ocorrem bombardeios.
Diante disto, o que fazem os líderes do “Primeiro Mundo”? Ao invés de pressionar Israel para que cesse seus crimes de guerra e suas violações do direito internacional, cortam totalmente o financiamento da principal entidade que dá assistência humanitária para 2 milhões de pessoas que estão em meio à pior catástrofe de suas vidas – e assim o sangue que já mancha as mãos de Biden e de Sunak, líderes dos Estados Unidos da Agressão e do Reino Unido do Imperialismo, agora também encharca a reputação do Sr. Trudeau, no Canadá, do Sr. Rutke, na Holanda, e dos líderes políticos da Itália (sob comando da extrema-direita), da Alemanha (empedernida defensora do “direito” sionista de perpetrar um holocausto contra o palestinos) etc.
As pessoas na Palestina estão sendo sistematicamente frustradas em relação a suas expectativas diante do que chamamos “comunidade internacional” e espraia-se um senso de ceticismo, ou mesmo de niilismo, diante das Nações Unidas tal como se constituiu após a 2ª Guerra Mundial – hoje em dia, por exemplo, o Conselho de Segurança da ONU tornou-se uma piada obscena e de mau-gosto, onde os Estados Unidos da Agressão podem apresentar vetos em série contra propostas que a imensa maioria das nações do planeta desejaria ver aprovadas. Por exemplo: <em 12 de Dezembro, a Assembléia Geral da ONU aprovou o cessar-fogo em Gaza por 153 votos a favor, 10 votos contra e 23 abstenções>, mas esta assembléia não tem poderes efetivos; no Conselho de Segurança, os EUA em três ocasiões já vetou a cessação das hostilidades alegando que os israelenses tem direito, de acordo com a doutrina da Guerra Contra o Terror, de continuar com o massacre realizado com bombas e dólares gentilmente concedidos pela Genocide Inc. U.S.A. São 153 países contra um – e o um prevalece. É um sistema insano e carcomido.
Como se não bastasse terem sido forçosamente deslocadas e condenadas ao status de refugiadas, as mais de duas milhões de pessoas em Gaza são bombardeadas ao sul do território, onde supostamente estariam seguras, e sofrem com a fome, o frio, a sede, a falta de hospitais etc. Sem que nenhuma investigação aprofundada tenha sido realizada, os países líderes do “Mundo Livre” (sic) praticam esta barbárie obscena de tesourar a UNRWA, atitude de punição coletiva não apenas contra Gaza mas contra todos os 6 milhões de pessoas atendidas pela UNRWA e contra a própria atividade cotidiana da entidade, após alegação de que alguns funcionários do staff teriam tido participação na operação Tempestade Al-Aqsa do Hamas e outros grupos armados palestinos em 7 de Outubro.
Uma mera alegação israelense, muito suspeita de ter elementos de fake news e false flag, gera um efeito dominó desses nos cúmplices ocidentais! Ainda que a acusação israelense tenha algum fundamento e uma dúzia de funcionários da UNRWA de fato tenha se aliado à insurreição armada de 7 de Outubro, nada justifica que uma entidade com 13.000 funcionários no território sofra um corte gigantesco e súbito por parte de seus financiadores ocidentais. Mas está aí outra insanidade do atual sistema: os EUA possui um poder absolutamente desproporcional sobre Gaza também por ser de longe o maior financiador da UNRWA, o que significa que, se alguns psicopatas senis na Casa Branca, na CIA e no Pentágono decidem assim, eles podem fazer colapsar a entidade que representa o sistema circulatório que faz circular vida – ainda que precária e mal nutrida, ainda que reduzida ao mínimo da sobrevivência – para os martirizados habitantes de Gaza.
Seria muito melhor caso o poder público e a entidade governamental, em Gaza, não fosse uma UNRWA totalmente dependente de poderes ocidentais aliados ao sionismo; seria muito melhor caso alguma solução de dois estados pudesse ser pactuada e que a Palestina tivesse enfim status de Estado-Nação, direito de auto-determinação, e inclusive o direito de possuir seu próprio exército nacional, o que os países agressores pretendem manter como prerrogativa e privilégio que não é estendido ao povo palestino. Por que Israel pode ter um exército, um arsenal assustador de bombas, inclusive atômicas, e a Palestina não pode nada?
Além do mais, a maioria dos comentadores e jornalistas na mídia hegemônica ocidental insiste na groselha enjoativa de martelar em nossas orelhas que o Hamas é apenas uma monstruosa organização terrorista; na verdade, o Hamas é uma entidade política que já venceu eleições para governar Gaza em algumas ocasiões (<veja a reportagem do The Guardian em 2006, quando o Hamas ganhou maioria parlamentar sobre a Fatah>), e portanto foi selecionada pelo princípio da soberania popular para servir como poder público. Porém, como <Eduardo Galeano sublinhou bem>, o Ocidente, quando não gosta dos resultados de uma eleição, manda bomba e pratica o massacre ao mesmo tempo em que presta um hipócrita serviço labial à noção capitalista-liberal de democracia.
Não vemos na mídia ocidental nenhuma análise séria ou argumentação bem-fundamentada que dialogue com o documento publicado pelo Hamas – Nossa Narrativa sobre a Operação Dilúvio de Al-Aqsa; e qualquer um que, como eu, leu com atenção este documento e concordou com várias de suas teses históricas a respeito da patologia do apartheid e do colonialismo impostos por Israel, corre o risco de ser sumariamente executado no “tribunal do Facebook” por ser “anti-semita” e “defensor de demoníacos terroristas”. Mas a aniquilação completa do Hamas precisa de sua demonização e de um completo descrédito lançado tanto sobre a vontade do povo palestino e sobre as perspectivas da resistência armada palestina sobre o 7 de Outubro.
Quem, dentre os que estão confinados no discurso mainstream ocidental, sabe que Israel matou muitos cidadãos israelenses naquele dia 7 de Outubro, seguindo a Doutrina Hannibal? Quem sabe que o festival de música Nova não era um alvo previamente selecionado pelos jihadistas e que ali helicópteros sionistas abriram fogo contra a multidão? Quem sabe que a Inteligência Artificial, em Israel, é utilizada através de um pavoroso programa “Gospel”, que escolhe alvos e direciona drones, causando um dispositivo de des-responsalização dos humanos e uma diluição dos mandantes dos crimes de guerra numa espécie de cyber-banalidade-do-mal?
<Acesse o documento “Nossa Narrativa” publicado pelo Hamas sobre os eventos de 7 de Outubro>
Infelizmente, a NAKBA 2.0 está de fato em curso, apesar do ICJ. É lastimável e vergonhosa esta medida de punição-coletiva, que exacerba o genocídio e piora o cenário de fome massiva e proliferação de doenças epidêmicas, apoiada por EUA, Canadá, Austrália, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, Holanda, Suíça e Finlândia. Assim caminha a Humanidade… para o abismo da desumanidade.
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JACOBINA:
“Apenas um dia depois que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou que Israel interrompesse o assassinato de civis em Gaza — decidindo que o país pode estar violando a Convenção sobre Genocídio —, os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, suspenderam o financiamento da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, mais conhecida como UNRWA.
Foi uma medida incrivelmente punitiva, um ato descarado de punição coletiva em meio à fome generalizada em Gaza, onde mais de dois milhões de pessoas dependem da UNRWA para a sobrevivência básica. A UNRWA administra abrigos para mais de um milhão de pessoas, fornecendo alimentos e cuidados de saúde primários aos palestinos deslocados.
Cerca de três mil funcionários, a maioria refugiados palestinos, continuam operando em Gaza sob bombardeios israelenses implacáveis. (Pelo menos 156 trabalhadores da UNRWA foram mortos por Israel nos últimos três meses, e Israel também bombardeou inúmeros abrigos e escolas da UNRWA, matando milhares de civis deslocados.)
A suspensão da ajuda surpreendeu as autoridades da ONU. “À medida que a guerra continua, as necessidades se aprofundam e a fome se aproxima”, disse o chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini. “Isso mancha a todos nós.” O chefe da ONU, António Guterres, apelou aos países doadores para não punirem os “dois milhões de civis em Gaza que dependem da assistência crítica da UNRWA”, enquanto Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os territórios palestinos ocupados, alertou que o desfinanciamento da UNRWA “desafia abertamente” a ordem da CIJ para permitir a entrada de assistência humanitária em Gaza.
A decisão veio depois que Israel acusou vários funcionários da UNRWA de envolvimento nos ataques do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro. Embora Israel já tenha acusado a UNRWA de ajudar o Hamas – no início de janeiro, um ex-funcionário israelense chegou a pedir a destruição da UNRWA, dizendo que “será impossível vencer a guerra se não destruirmos a UNRWA, e essa destruição deve começar imediatamente” -, o momento das acusações de Israel sugere que é uma retribuição pela decisão da CIJ. Os Estados Unidos, a Alemanha e a UE são os maiores doadores individuais para a UNRWA, contribuindo com mais de 60% de seu financiamento total.
A mais recente capitulação do Ocidente a Israel sublinha a sua cumplicidade contínua nos crimes de guerra de Israel: os governos dos EUA e da UE estão efetivamente a matar de fome refugiados palestinianos em Gaza, devastada pela guerra, enquanto esbanjam milhares de milhões em ajuda militar e financeira a Israel. Armado com armas e apoio ocidentais, Israel matou até agora mais de vinte e seis mil palestinos em Gaza, incluindo mais de treze mil crianças. Centenas de palestinos foram mortos por Israel desde a decisão da CIJ na semana passada.
A trágica ironia é que a UNRWA foi fundada após a Nakba de 1948 – a expulsão em massa de 750.000 palestinos que acompanhou a fundação de Israel – para aliviar Israel de suas obrigações para com os refugiados que expulsou de suas terras e casas. Gaza sofreu o impacto da realocação, com 250.000 dos desenraizados se amontoando na pequena faixa. O restante se estabeleceu na Cisjordânia e nos países vizinhos Líbano, Síria e Jordânia.
Oito campos de refugiados foram criados em Gaza na esteira da Nakba. A crise foi tão profunda que, em 1º de dezembro de 1948, as Nações Unidas criaram uma agência especial para ajudar os refugiados palestinos, a United Nations Relief for Palestine Refugees, que mais tarde deu origem à UNRWA. Dez dias depois, em 11 de dezembro, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução 194, que pedia a chegada a um acordo final para garantir o direito dos refugiados palestinos de retornar às suas casas. (Israel ignorou a resolução, mas ela tem sido reafirmada pela Assembleia Geral da ONU quase todos os anos desde então.)
A Resolução 194 arrepiou a espinha dorsal da liderança israelense, que ainda era assombrada pelo espectro de palestinos inundando de volta. Portanto, quando um ano depois a UNRWA foi fundada por uma resolução da Assembleia Geral da ONU para realizar programas diretos de ajuda e trabalho para refugiados palestinos, Israel estava entre os principais países a apoiar a resolução, juntamente com os Estados Unidos e os países árabes.
Israel estava bem ciente de que a UNRWA não foi criada para resolver a crise de refugiados, mas a crise de refugiados de Israel. Enquanto de vez em quando os líderes israelenses atacavam publicamente o que viam como o viés anti-Israel da UNRWA, a agência era uma dádiva internacional para Israel, aliviando as dúvidas morais e as obrigações financeiras.
Naquele período, líderes israelenses como David Ben-Gurion e Moshe Dayan admitiram que os refugiados palestinos sofreram grandes injustiças nas mãos de Israel e foram vítimas de guerra e violência cujas queixas devem ser tratadas se Israel quiser bloquear seu retorno. Os líderes israelenses também perceberam que os campos de refugiados espalhados pelas fronteiras de Israel seriam um fardo pesado para o futuro do Estado. Como resultado, e sob crescente pressão internacional, Israel estava pronto para discutir a questão da compensação e repatriação, para compartilhar com os países árabes e a comunidade internacional o ônus financeiro para os refugiados, e até mesmo para permitir reuniões de refugiados com suas famílias dentro de Israel. Ao mesmo tempo, Israel continuou a incentivar a integração de refugiados nos Estados árabes anfitriões, que estava no centro da missão da UNRWA.
E assim, com um forte mandato e financiamento internacional, a UNRWA iniciou suas operações em maio de 1950. A agência chegou a operar dentro de Israel até 1952, e contou com o apoio de Israel muito tempo depois. Em 1967, Israel pediu à UNRWA que continuasse seu trabalho na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, e rotineiramente expressou sua aprovação para sua missão humanitária nos países árabes anfitriões. Praticamente não houve resmungos israelenses quando, em 1996, a UNRWA mudou sua sede de Viena para Gaza, onde um quarto dos refugiados palestinos vivia na época.
Mas agora, enquanto Israel nivela Gaza com fúria genocida, a UNRWA aparentemente está cometendo o pecado de tentar manter vivos os refugiados palestinos. E em vez de trabalhar para evitar os crimes de Israel em Gaza, os governos ocidentais, liderados pelo governo Biden, voltaram sua ira contra as vítimas, visando um povo cuja sobrevivência agora depende da caridade internacional. (A UNRWA ainda aceita doações de pessoas físicas.)
Se Israel realmente deseja acabar com a UNRWA, a única alternativa é garantir o retorno dos refugiados palestinos às suas casas em Israel. Nas palavras do historiador Ilan Pappe, “a resolução [194] pedia o retorno incondicional dos refugiados palestinos. A UNRWA só pode ser desmantelada se essa resolução for respeitada.” SERAJ ASSI
Reportagem do Middle East Monitor: “The US, UK, Italy, Australia, Canada, Finland and the Netherlands decided to suspend funding to UNRWA on Friday amid terrorism allegations against some staff by Israel. This development follows an International Court of Justice order for Israel to promptly deliver aid to Gaza and prevent a potential genocide in the besieged Strip. Norway welcomed investigations of some staffers but said it would continue to support Palestinians via UNRWA. Ireland also announced it would not suspend funding to the UN agency. The Israeli offensive has left 85% of Gaza’s population internally displaced amid acute shortages of food, clean water, and medicine, while 60% of the enclave’s infrastructure was damaged or destroyed, according to the UN.” https://www.middleeastmonitor.com/20240128-palestine-slams-decisions-by-some-countries-to-suspend-funding-for-un-relief-agency/
PROGRAMA DO DEMOCRACY NOW!: Despite Looming Gaza Famine, U.S. Halts UNRWA Funding After Israel Claims 12 U.N. Staff Aided 10/7 Attack https://www.democracynow.org/2024/1/29/nrc_unrwa_funding
PROGRAMA INSIDE STORY DA AL JAZEERA:
DOCUMENTÁRIO D’A CASA DE VIDRO FILMADO EM HAIA, COM LEGENDAS EM PT:
Ilustração da Abertura: Osama Hajjaj
JACOBINA:
Publicado em: 30/01/24
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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